'Sem essa medicação, meu filho vai ficar internado': moradores relatam transtornos por falta de medicamentos em Piracicaba
07/10/2025
(Foto: Reprodução) Ao menos 30 das 111 farmácias municipais de Piracicaba registram falta de remédios
De analgésicos a medicamentos para pressão alta, infecções e doenças do sistema nervoso central. De uma lista de 111 medicações, cerca de 30 estão em falta na rede municipal de Piracicaba (SP). A prefeitura diz que tem uma licitação em andamento para normalizar a situação.
Lilian Camargo França tem um filho de 18 anos com autismo severo e esquizofrenia. Há sete anos ela pega medicação para ele na rede pública, mas neste mês não está encontrando nas farmácias municipais ou nas particulares.
"Todas as farmácias que liga não tem. Foi indicado para procurar na área rural, na área rural não tem. Nem para comprar nas farmácias [particulares] não está tendo", relata.
Segundo ela, o filho não consegue dormir sem o medicamento.
"Acho uma falta de respeito porque sem essa medicação o meu filho, o que vai acontecer com ele? Vai ficar internado. E o risco de saúde dele, ele teve inflamação cerebral, agora que ele está estabilizado, ficar sem essa medicação é um risco extremo para a saúde dele. Fora que ele fica agressivo", acrescenta.
Lilian Camargo França relata falta de medicamento em farmácias municipais
Edijan Del Santo/ EPTV
A atendente de lanchonete Adriele Cezotto tenta pegar cartelas de Sertralina desde o mês passado.
"Eu tenho que tomar dois comprimidos por dia, a cada manhã. Foi prescrito pela médica dia 8 do 9 [setembro]. Já não tinha previsão para quando teria novamente [...] Prejudica porque aumenta a ansiedade", lamenta.
O soldador Armando Medeiros veio em busca de remédios para o filho, que enfrenta doenças psiquiátricas desde que sofreu um acidente.
"Esse aqui eu comprei ontem, gastei 200 conto pra comprar". Hoje, conseguiu só uma das medicações. A outra não tem. "Tem que comprar, né? Vai ser mais ou menos uns R$ 40 por caixa".
Atendimento na farmácia central de Piracicaba
Wesley Almeida/ EPTV
Já Margarida Marques contou que foi à farmácia municipal buscar quatro remédio e só tinha um, para pressão. Ela diz que não encontrou medicamentos para diabetes e para o coração. Por conta disso, ela tem de comprar o restante em farmácias particulares.
"Tá difícil. Eu tomo uma vitamina pra tirar dor do corpo, ela tá R$ 90. E a gente ganha um salário, né? Quase que o dinheirinho tá indo só no remédio", desabafa.
A manicure Caroline do Carmo não encontrou Ibuprofeno ao procurar o medicamento em uma farmácia municipal. Em uma situação anterior, ela disse que também não encontrou Prednisona.
Segundo a manicure, a falta tem sido recorrente. "É uma falta de respeito com a população, né? Porque a gente fica esperando o medicamento e não tem", criticou.
Rede municipal registra falta de medicamentos em Piracicaba
Prefeitura de Piracicaba
Agente de saúde confirma situação
Um agente de saúde que integra a comissão responsável por reportar o estoque das farmácias, que preferiu não se identificar, confirma o problema.
"Já faz meses, em torno de três a quatro meses, que a população está reclamando muito que não está tendo medicações básicas para o tratamento de pressão alta, para o tratamento de diabetes, para o tratamento também de dislipidemia, além de outras doenças simples que são de resolução da atenção básica. Nós temos vários usuários que não têm acesso a essas medicações. Então, eles estão, sem tomar, prejudicando assim o seu tratamento de saúde", relatou.
Ele também questionou o sistema de distribuição dos medicamentos. "Quando a gente liga questionando que farmácia que tem, tem farmácia longe, farmácia que fica a 10, 15 quilômetros de distância. E como uma população que não tem condições financeiras vai ficar se deslocando nessa busca por medicamento?", questiona.
O que diz a prefeitura
A Secretaria Municipal de Saúde informou que a atual gestão decidiu adotar o modelo de contratação por meio de agrupamento de medicamentos em lotes.
Segundo a pasta, essa abordagem visa reduzir os riscos de desabastecimento provocados por eventuais descumprimentos contratuais pelos fornecedores, além de reduzir a frequência de solicitações para substituição de marcas e a necessidade de reequilíbrio financeiro dos contratos.
“É uma medida que promove maior estabilidade na cadeia de suprimentos, melhora a eficiência da gestão logística e assegura maior previsibilidade no fornecimento de medicamentos às unidades da rede pública de saúde”, justificou.
Também conforme a secretaria a licitação está em andamento e sua finalização vai regularizar o fornecimento das medicações.
“Nesta terça-feira, 7/10, por exemplo, foram homologados 4 lotes que garantem a aquisição de variados medicamentos. Os departamentos envolvidos no processo estão buscando alternativas para agilizar o processo de licitação, bem como outras possibilidades legais”, finalizou.
Não foi informado um prazo para normalização.
Atendimento em farmácia municipal de Piracicaba
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